sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A BATALHA DO MEU PAI

Mara Gabrilli
Em 2001, ano em que a revista Tpm foi lançada, eu estava para escrever minha coluna da quarta edição quando meu pai foi para o hospital fazer uma intervenção cirúrgica na artéria aorta. Perdeu os dois rins, entrou em coma e eu fiquei impossibilitada emocionalmente de escrever esta coluna. Liguei para o editor na época, que não me deixou escapar. Saiu a coluna “Babbolino”, que conta, no meio da minha imensa dor, tudo o que aconteceu com o meu pai.
Lembro como se fosse hoje eu escrevendo e pedindo a Deus que ele não morresse. Naquele momento, viveria a maior desestrutura da minha vida se ele fosse embora. Eu já tinha quebrado o pescoço e sempre foi mais difícil pra mim enxergar a dor nos olhos do meu pai por eu usar uma cadeira de rodas do que encarar a vida repaginada por uma tetraplegia.
Nessa época, eu desconhecia o lado guerreiro e imbatível que ele exercitou durante cada dia dos dez anos de sobrevida.
Um ano de hemodiálise em que se transfigurava de sofrimento, até fazer um transplante renal. Começou a tomar imunossupressor para não ter rejeição do rim, o que o debilitou demais e ainda lhe trouxe vários focos de câncer de pele e no reto. Foram inúmeras cirurgias. Até para tirar quase que toda a orelha. Sem contar as pneumonias, a diabetes que desencadeou, os níveis oscilantes de ureia e creatinina, as infecções na bexiga…
Aquele que durante anos me acompanhou me levando para esquiar, andar de moto, barco, helicóptero, jogar tênis e conhecer o mundo. Aquele que tomava café da manhã comigo e domingo pegava um de seus ônibus e me levava, junto com meu irmão, para passear. Aquele que sempre foi muito querido e admirado agora estava doente e tinha a vida roubada.
Acompanhei passo a passo cada etapa conquistada pelo meu pai dentro do quadro de falência do corpo que o acompanhou por aqueles dez anos.
Norteei meu trabalho, meus princípios, meu discernimento pelo caráter, pela doçura e pela conduta correta que ele sempre teve.
Foi nesse período que ingressei na política sempre procurando ser a antítese da política suja que adoeceu meu pai.
Como se eu pudesse apagar tudo de ruim que fizeram para ele através de uma política do bem, de uma conduta impecável capaz de extinguir o jogo podre que açoitou minha família, a cidade de Santo André e resultou no mensalão brasileiro.
Olhar
Como poderia imaginar que hoje eu seria uma deputada federal assistindo de dentro do Congresso Nacional ao retorno de vários desses personagens corruptos que destruíram vidas para poder enriquecer.
O meu pai, em seus últimos meses, se expressava com o olhar e um dedo que aprovava e desaprovava. Mas por toda a vida se emocionou só de me olhar e apesar de muito se orgulhar de mim nunca deixou de se indignar por eu ter quebrado o pescoço.
Ele caiu da cama, quebrou o fêmur e teve de ser operado. De repente, seu rim transplantado parou. Desta vez segurei na mão dele e pedi para Deus que o levasse em paz…
Ele deixou comigo tudo o que construímos de vida, sem dor e sem sofrimento: só saudade.
Tudo de bom que fiz e quero continuar fazendo às pessoas dedico ao meu pai, que me ensinou a ser assim.

(*) Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Próximo Passo (PPP). Seu e-mail: maragabrilli@maragabrilli.com.br

Turismo sucateado

Julio Serson*

O turismo mundial cresce, a cada ano, na esteira da competitividade do setor, da ampliação dos nichos turísticos de cada país e, sobretudo, da melhoria dos sistemas de emissão e recepção de turistas. Se essa tem sido a tendência internacional, o Brasil mostra que sua locomotiva turística ainda é a velha maria-fumaça, movida a lenha.
Basta ver os números. O País representa cerca de 4% a 5% do PIB global, mas fica com apenas 0,7% das receitas geradas pelo setor turístico em todo o mundo. O movimento de turistas estrangeiros no Brasil permanece praticamente estagnado há uma década, diante de um crescimento mundial acumulado na faixa de 40%. Recebemos cerca de 5 milhões de turistas estrangeiros ao ano, pouco mais de 0,5% do total do planeta. Se compararmos com os líderes, a diferença é absurda: França, 76 milhões; EUA, 59,7 milhões; China, 55,7 milhões; Espanha, 52,7 milhões; e Itália, 43,6 milhões de visitantes.
Esse desempenho preocupa bastante, porque está muito abaixo do que se pode esperar de um país com tantas condições favoráveis: natureza exuberante, cultura rica, diversidade étnica, culinária espetacular, povo acolhedor. Deveríamos apresentar resultados mais expressivos, empregar mais e investir mais. Em 2010, esse mercado movimentou quase US$ 1 trilhão no mundo. O Brasil recolheu míseros US$ 6 bilhões. Pior ainda: os brasileiros que viajaram para o exterior gastaram US$ 16 bilhões. Registramos um déficit de US$ 10 bilhões, que significa algo como 16 mil empregos que perdemos aqui e "exportamos" para outros países.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, este ano o Brasil caiu da 45.ª para a 52.ª posição no ranking de competitividade em turismo (e ocupa só o 7.º lugar nas Américas). É interessante notar que nosso país lidera a pontuação no que se refere a recursos naturais, é o 23.º em recursos culturais e o 29.º em sustentabilidade ambiental. Nosso atraso mostra que ainda nos encontramos na fase da infância neste setor da economia.
O câmbio supervalorizado estimula as viagens de brasileiros para o exterior, mais baratas, e atrapalha a vinda de estrangeiros. O real é, hoje, uma das moedas mais valorizadas do planeta, por causa das estratosféricas taxas de juros, que atraem o capital externo em busca de lucros fáceis. Se tivéssemos abundância de capitais aos juros que americanos e europeus têm, daríamos de 10 a 0 nas empresas deles.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se enreda numa burocracia exagerada que termina por tornar praticamente inviável qualquer tentativa de obtenção de crédito. Basta lembrar que hoje há 1.280 hotéis em construção no Brasil, sem a participação de recursos públicos. Outra questão dramática é a carga tributária. Hotelaria e turismo detêm a incrível marca de mais de 40 itens de tributos.

Falta-nos uma infraestrutura moderna. Não têm sido feitos os investimentos necessários em estradas, ferrovias, portos, aeroportos, energia, transporte urbano e saneamento. Aliás, não fossem os gargalos nos transportes, especialmente aeroportos, o País poderia dobrar o número de turistas estrangeiros.
Enfrentamos a carência de mão de obra qualificada. É preciso formar trabalhadores para o setor turístico e hoteleiro, capazes de receber melhor, atender melhor, conhecer outras línguas e proporcionar ao turista estrangeiro a satisfação que ele espera quando escolhe seu destino.
Nas últimas duas décadas o Brasil deu importantes passos, a partir da estabilização econômica, da liberalização do mercado e da desestatização de áreas que encontraram melhor desempenho sob gestão privada (como telecomunicações, rodovias e, agora, aeroportos, que começam a entrar no regime de concessão). Mas ainda há muito por realizar. A sociedade civil, por sua vez, tem de se organizar e valorizar o setor turístico como fonte de riqueza e desenvolvimento.

*presidente do Grupo Serson, vice-presidente de Relações Institucionais do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Foi presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

BRT é solução rápida e eficiente para desafogar o metrô

Célia Moreno    - Comunicação Integrada 

 

                                                                               

Integração com outros modais é necessária para que sistemas sobre trilhos funcionem com eficácia


O metrô de São Paulo tem atualmente uma rede de 70,6 quilômetros e registrou neste ano a maior demanda de sua história, proporcionalmente à população da capital. São quatro milhões de passageiros por dia, que representam 35% da população da cidade. Como a demanda cresce mais rapidamente do que a capacidade do metrô, o sistema registrou também a sua pior avaliação, de acordo com pesquisa divulgada pelo Datafolha no dia 7 de setembro.
Foi a primeira vez que menos da metade (47%) dos usuários avaliou o serviço como ótimo ou bom – 8% a menos do que na pesquisa de 2008. Os dados refletem a previsão de muitos especialistas em mobilidade urbana, que dão conta de que o metrô está prestes a ficar saturado, com muito público para pouco espaço. Para eles, é urgente que o poder público invista na construção de modais complementares ao metrô, e não somente em sua expansão, e em maneiras de aumentar seu público, como ocorre quando são ampliadas as integrações.
Uma alternativa importante que está sendo implantada em muitas capitais brasileiras, especialmente com investimentos da Copa do Mundo de 2014, é o BRT (do inglês Bus Rapid Transit). Trata-se de um sistema de transporte de ônibus em corredor exclusivo, segregado do trânsito comum. Somente no Rio de Janeiro, que também será sede dos Jogos Olímpicos em 2016, quatro grandes corredores BRT serão construídos - com os nomes de TransOeste, TransCarioca, TransOlímpica e TransBrasil -, somando 155 km de vias exclusivas para ônibus.
Segundo dados da Fundação Clinton de Desenvolvimento Internacional e do Instituto Jaime Lerner, a grande vantagem do BRT é que sua implantação é mais rápida e mais barata do que as opções sobre trilhos. O levantamento dessas instituições mostra que o metrô pode levar cerca de nove anos para ser implantado em um trecho de 10 quilômetros; VLTs, em torno de sete anos; e o BRT em torno de 2,5 anos para cobrir a mesma distância. Quando o aspecto é custo, as diferenças são assustadoras: a implantação do metrô implica em investimentos da ordem de R$ 2,1 bilhões por quilômetro, VLTs custam R$ 404 milhões, e BRT, R$ 11 milhões para o mesmo trecho.
Em São Paulo, um corredor nesses moldes liga o ABC à capital desde 1997. É o Corredor ABD, da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), operado pela concessionária Metra. Com 33 quilômetros de extensão, o sistema funciona baseado na prioridade ao transporte de passageiros, de tal forma que até os semáforos que cruzam o corredor são sincronizados com a programação das linhas de ônibus. Pelas suas características de transporte rápido, o corredor registra uma média de 21 km/h nos horários de pico, velocidade bastante superior à média dos ônibus comuns, mesmo nas faixas “exclusivas”, mas não segregadas, que é de 11km/h.
O corredor paulista foi um dos locais visitados pelo secretário municipal de Transportes do Rio de Janeiro, Alexandre Sansão, responsável pela implantação dos corredores que promoverão a ampla reformulação das formas de locomoção da população carioca, estimularão a racionalização do atual sistema de ônibus e darão maior agilidade aos deslocamentos das pessoas. "O corredor ABD impressiona pela eficiência conseguida, com simplicidade e foco na qualidade do serviço prestado ao usuário", disse o secretário.